Eduardo Ribeiro Mundim
Recentemente
li um artigo sobre a homofobia na Folha de São Paulo. Chamou-me a
atenção a linha de raciocínio adotada por quem o escreveu: na década de
40, a liberação do voto foi vista como prenúncio de uma catástrofe, e a
lei do divórcio, idem. A conclusão foi de que todo o barulho realizado
por fiéis evangélicos contra a chamada "lei da homofobia" teria destino
igual: um sereno esquecimento.
Para
uns, a lei evita que os homossexuais sejam discriminados sob qualquer
forma; para outros, é um atentado à liberdade de expressão. Talvez ambos
estejam certos...
Alguns
articulistas evangélicos adotam termos que fazem pensar em uma guerra
aberta contra um segmento homossexual específico. "Gaynazismo" é um
deles; existem outros que não me parecem adequados para uma página
escrita por um cristão.
Por
outro lado, alguns segmentos homossexuais parecem querer realmente
impor um paradigma a todos, cometendo o mesmo erro que eles denunciam.
Padrão que parece ser construído sobre a noção que não há barreiras para
a atividade sexual, desde que ela seja previamente acertada entre os
envolvidos. Publicamente negam que tal acordo possa envolver menores de
idade.
Penso
que a lei tenha como alvo sermões que usem termos pejorativos contra a
comunidade homossexual, ou que, contrariando as Escrituras, coloquem a
atividade homossexual como o maior de todos os pecados; ou, novamente
contrariando as Escrituras, a coloquem como exemplo máximo da perversão
do ser humano não redimido; ou, pior ainda, deturpando-as, coloquem o
alvo da evangelização o cessar da atividade homossexual, e não a
confissão do Senhorio de Jesus com toda a adequação ética conseqüente.
Como
cristão, de confissão evangélica, pergunto-me às vezes se não aspiramos
um governo evangélico de cunho totalitário, onde todos seriam
submetidos, querendo ou não, a um governo civil imposto, alicerçado
sobre uma hermenêutica determinada. Uma imitação barata dos novos céus e
terra que não construiremos, mas que ganharemos como presente, pronto e
acabado, vindo das mãos de Deus.
Pergunto-me onde estamos, enquanto evangélicos,
o na
luta contra as mortes no trânsito? (quem apoiou publicamente a "lei
seca" - excetuando a parte inconstitucional de querer obrigar alguém a
produzir provas contra si mesmo);
o na moralidade da vida pública? (talvez Marina Silva seja um dos poucos políticos evangélicos que não nos envergonhem);
o na
luta contra o infanticídio indígena? (onde está a mobilização dos
políticos que muitas vezes são chamados a ocupar os púlpitos em época
eleitoral?)
o na luta pela redução da desigualdade social via desenvolvimento real e não através de medidas paliativas isoladas?
Questiono-me
se quando denunciamos o pecado da homossexualidade também denunciamos o
da mentira (por exemplo, jeitinhos na declaração do imposto de renda),
do roubo (um jeitinho de reduzir ardilosamente a carga horária mantendo o
salário), da deslealdade, da violência (durante quanto tempo apoiamos a
ditadura militar com todos os seus excessos, justificados pela busca do
"bem maior"?)...
publicado originalmente, 30/07/08, http://crerpensar.blogspot.com.br/2008/07/homofobia-e-o-pecado-de-todos-ns.html
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