segunda-feira, 13 de junho de 2016

Fwd: [Bioética e Fé Cristã] Carta Aberta a todos os participantes nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro 2016

Esta carta expressa nossa preocupação em relação à intempestiva e equivocada opinião divulgada por Attaran et al sugerindo que estas olimpíadas deveriam ser adiadas, transferidas e até canceladas.

Com o devido respeito à sua possível boa intenção, nós claramente discordamos desta proposta.

Aqui estão os fatos:
  1. A epidemia do vírus Zika: alcançou o Brasil provavelmente em 2014 e atingiu principalmente a região nordeste do pais, onde foram descritos os primeiros casos de microcefalia associada ao Zika. Esta infecção tem como vetor o Aedes aegypti, o mesmo da dengue e chikungunya, vetor este prevalente no Brasil e em vários outros países. Cumpre lembrar que o vírus Zika pode também ser transmitido pelo A. albopictus (prevalente no hemisfério norte).
  2. A infecção é geralmente branda, autorresolutiva em poucos dias, exceto para mulheres grávidas pois o feto pode ser gravemente afetado. As sequelas para o recém-nascido são várias e há premente necessidade de estabelecer ou implementar rede social/financeira para as mães que deverão cuidar destas crianças muitas vezes de maneira integral e por tempo indeterminado
  3. Há realmente necessidade de atacar as razões principais da enorme disseminação dos vetores e de buscar melhorar as condições sanitárias e sociais que facilitam estas e outras doenças emergentes e reemergentes. Há ainda a necessidade de aumentar as pesquisas epidemiológicas e para o desenvolvimento de medicamentos, vacinas e para o controle vetorial
  4. A OMS declarou a epidemia do Zika como "Emergência de Saúde Pública de importância internacional (PHEIC, na sigla em inglês) e o Ministério da Saúde do Brasil estabeleceu protocolo específico para lidar com a epidemia, campanhas de esclarecimento e mutirões para diminuir a infestação pelo Aedes.
  5. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC USA) também se posicionaram estabelecendo recomendações para viajantes para locais onde há conhecida transmissão do Zika e de outros vírus carreados pelo mesmo vetor.
  6. A mesma preocupação ocorreu em relação à epidemia de dengue, antes da Copa do Mundo de 2014, quando mais de um milhão de turistas estiveram no Brasil. Esta mais prevalente e mais grave, não houve qualquer movimento para sua suspensão ou adiamento,e não encontramos evidência científica do aumento de sua prevalência em outros países relacionados com a vinda de turistas para este evento. Houve sim relato de pequeno numero de turistas aqui diagnosticados e deve ser considerado que, diferente da Olimpíada, os jogos da Copa ocorreram em todas as regiões do Brasil

Com este preâmbulo consideramos fútil o argumento que a Olimpíada por si só aumentará o risco de transmissão internacional do vírus Zika. É fútil porque o tráfego aéreo internacional neste chamado mundo globalizado, e considerando apenas este tipo de viagem e só através do Aeroporto Internacional de São Paulo-Guarulhos, foi superior a 6 milhões de passageiros em 2015(o total anual de passageiros em Guarulhos chega a 38 milhões). Vale acrescentar que os aeroportos do Rio de Janeiro e da região nordeste do Brasil tem também tráfego intenso de turistas vindos da Europa, bem como o numero cada vez maior de cruzeiros marítimos aportando diariamente em nossa extensa costa, independentemente das Olimpíadas. O risco ainda será mitigado pela diminuição do numero de vetores no inverno, pelas ações para diminuir os focos do mosquito, além da divulgação dos riscos e dos métodos para diminuí-los.
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Em conclusão:
  1. Não vemos no momento atual razões científicas para suspender ou adiar as Olimpíadas Rio 2016
  2. Há imperiosa necessidade de maior aporte de recursos financeiros e de pessoal, não só para diminuir a infestação pelo Aedes e aumentar a pesquisa para vetores geneticamente modificados mas também e mais importante para investir no saneamento básico em todo o país, ao mesmo tempo evitar qualquer diminuição dos direitos sociais e da abrangência do Sistema Único de Saúde.
  3. As mulheres grávidas devem ser informadas do alto risco de vir ao Brasil para as Olimpíadas e devem tomar todos os cuidados se a vinda ao pais for decidida;
  4. Deve ser recomendada a utilização de cuidados preventivos em relação à possível transmissão sexual deste vírus e de outros vírus;
  5. As informações sobre os riscos devem ser claramente divulgadas e qualquer novo conhecimento deve ser imediatamente compartilhado;
  6. A distribuição pelo SUS dos repelentes para a população brasileira deve ser imediata
  7. As mulheres infectadas durante a gravidez deverão receber todo o apoio necessário para acessar os cuidados necessários para elas e seus filhos – acesso a suporte financeiro, social e de saúde.


REGINA RIBEIRO PARIZI CARVALHO
Presidente da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB)
Médica. Doutora em Bioética
Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual - IAMSPE

DIRCEU BARTOLOMEU GRECO
Membro do Conselho Científico da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB) 
Médico. Doutor em Medicina Tropical (UFMG)
Professor titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Referências:

fonte: http://www.sbbioetica.org.br/Carta-Aberta-a-todos-os-participantes-nos-Jogos-Olimpicos-e-Paralimpicos-do-Rio-de-Janeiro-2016


Postado no Bioética e Fé Cristã em 6/13/2016

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