quinta-feira, 31 de março de 2016

Cristãos na Ciência: Quatro razões porque jovens cristaos abandonam a igreja

The Barna Group – traduzido por Áquila Mazzinghy

Muitos pais e líderes de igreja se perguntam como podem cultivar uma fé duradoura na vida de jovens de uma forma mais eficiente e duradoura. Um projeto de pesquisa de 5 anos do "Barna Group" explorou as oportunidades e os desafios do desenvolvimento da fé entre adolescentes e jovens adultos cristãos dentro de uma cultura que muda rapidamente.

O projeto de pesquisa foi composto de oito estudos nacionais nos EUA, incluindo entrevistas com adolescentes, jovens, pais, pastores de jovens e pastores seniors. O estudo de jovens adultos foi voltado para aqueles que eram frequentadores regulares de igreja durante sua adolescência e explorou as suas razões para a desconexão da igreja depois dos 15 anos de idade.

Nenhum motivo foi o determinante para o rompimento entre a igreja e os jovens adultos. Em vez disso, uma variedade de razões emergiu. No geral, a pesquisa descobriu alguns temas importantes que fazem os jovens desconectarem-se da igreja permanentemente ou por um período prolongado de tempo de suas vidas. Aqui, citamos quatro:

Primeira Razão – As igrejas tem a tendência de ser superprotetoras.
Algumas das características que definem os adolescentes e os jovens adultos de hoje são o seu acesso sem precedentes às ideias e visões de mundo, bem como o seu consumo extraordinário da cultura popular. Como cristãos, eles expressam o desejo de sua fé em Cristo para se conectar ao mundo em que vivem. No entanto, muito de sua experiência no cristianismo é sufocante, baseada no medo e na aversão ao risco. Um quarto dos jovens de 18 a 29 anos disse: "cristãos demonizam tudo o que está fora da igreja" (23% indicaram que essa descrição descreve "completamente" ou "principalmente" a sua experiência). Outras percepções nesta categoria incluem "a igreja ignora os problemas do mundo real" (22%) e "minha igreja está muito preocupada que filmes, músicas e jogos de vídeo-game sejam prejudiciais" (18%).

Segunda razão – A experiência acerca do cristianismo de adolescentes e jovens é superficial.
A segunda razão que contribui para o abandono dos jovens da igreja é que falta profundidade em suas experiências com a igreja. Um terço disse que "a igreja é chata" (31%). Um quarto desses jovens adultos disse que "a fé não é relevante para a sua carreira ou interesses" (24%) ou que "a Bíblia não é ensinada de maneira clara ou com bastante frequência" (23%). Infelizmente, um quinto destes jovens adultos que participaram de uma igreja enquanto adolescente, disse que "Deus parece ausente da sua experiência de igreja" (20%).

Terceira razão – As igrejas parecem ser antagônicas à ciência.
Uma das razões por que jovens se sentem desconectados da igreja ou da fé é a tensão que sentem entre o cristianismo e a ciência. A mais comum das percepções nesta esfera é a de que "os cristãos são tão confiantes que acham que sabem todas as respostas" (35%). Três em cada dez jovens adultos com uma formação cristã sentem que "as igrejas estão fora de sintonia com o mundo científico em que vivemos" (29%). Outro um quarto abraçam a percepção de que "o cristianismo é anti-ciência" (25%). E quase a mesma proporção (23%) disse ter "sido silenciada pelo debate criação versus evolução." Além disso, a pesquisa mostra que muitos jovens cientistas cristãos estão lutando arduamente para encontrar maneiras de ficarem fieis na fé bíblica e também na sua vocação profissional em indústrias relacionadas com a ciência.

Quarta razão – A Igreja é hostil com aqueles que manifestam dúvidas
Jovens adultos com experiência cristã dizem que a igreja não é um lugar que lhes permite expressar dúvidas. Eles não se sentem seguros em admitir que, algumas vezes, o cristianismo não faz sentido. Além disso, muitos acham que a resposta da Igreja às duvidas é trivial. Algumas das percepções a este respeito incluem "não poder indagar minhas perguntas de vida mais vitais e essenciais na igreja" (36%) e ter "dúvidas intelectuais significativas sobre a minha fé" (23%). Em um tema relacionado de como igrejas lutam para ajudar os jovens adultos que se sentem marginalizados, cerca de um em cada seis com uma formação cristã disse que sua fé "não ajuda com a depressão ou outros problemas emocionais" que experimentam (18%).

A pesquisa aponta para duas respostas opostas, mas igualmente perigosas para líderes religiosos e pais: a minimização ou a "super-correção". O estudo sugere que alguns líderes ignoram as preocupações e as questões de adolescentes e jovens adultos porque eles acreditam que a "desconexão" acabará quando estiverem um pouco mais velhos e tiverem seus próprios filhos. No entanto, esta resposta perde para as dramáticas mudanças tecnológicas, sociais e espirituais que ocorreram ao longo dos últimos 25 anos e ignora os significativos desafios atuais que os jovens estão enfrentando.

Outras igrejas tomam medidas corretivas pelo lado oposto (a super-correção), usando todos os meios possíveis para fazer seu apelo congregacional para adolescentes e jovens. No entanto, colocar o foco exclusivamente em adolescentes e jovens faz com que a igreja comece a excluir os crentes mais velhos e "constrói uma igreja sobre as preferências dos jovens e não na busca de Deus", disse Kinnaman.

Kinnaman, autor da pesquisa, observou que muitas igrejas aproximam gerações de uma maneira hierárquica, de cima para baixo, ao invés de vez de implantar uma verdadeira equipe de crentes de todas as idades. "Cultivar relações intergeracionais é uma das maneiras mais importantes em que comunidades de fé eficazes estão em desenvolvimento florescente da fé evangélica em jovens e velhos. Em muitas igrejas, isso significa mudar a metáfora de simplesmente passar o bastão para a próxima geração para uma imagem mais funcional, para uma imagem bíblica de um corpo – ou seja, toda a comunidade de fé, ao longo de toda a vida, trabalhando em conjunto para cumprir os propósitos de Deus."

fonte: http://www.cristaosnaciencia.org.br/

O Valor da Falta

Eduardo Ribeiro Mundim


Anteriormente, levantei, brevemente, a questão da falta e o jardim do Éden. Agora, desejo aprofundar um pouco mais no tema.


Deve-se ter cuidado para não transportar às Escrituras o modelo psicanalítico, de qualquer escola. Os personagens bíblicos não têm dados biográficos suficientes (com raras exceções) para qualquer interpretação que pretenda ser respeitável. Contudo, alguns conceitos podem, acredito, ser explorados pelas páginas sagradas.


Um destes é o da falta. O ser humano é descrito pelos freudianos como um "ser em falta", "um ser construído em torno de uma falta". Seu maior modelo neste ponto é o complexo de castração. Sumariamente, o efeito produzido na criança ao perceber a diferença entre os sexos, que seja, a presença peniana - e, portanto, a possibilidade de perder o órgão, para uns, e o fato de nunca tê-lo tido, para outros.


Tradicionalmente, a falta é descrita como algo de contorno negativo, ainda que seja a mola mestra de todo processo criativo humano. Apesar disto, continua sendo um fato a lamentar e a desejar um dia em que não mais exista.


Biblicamente, a falta pode ser rastreada na queda do primeiro casal. A falta, ao menos no seu sentido negativo, teria surgido neste momento, quando Adão e Eva são expulsos do Paraíso, do lugar da perfeição.


Minha hipótese é de que a falta faz parte dos planos do Criador desde o primeiro momento, e que a rejeição desta característica deu à luz ao primeiro pecado humano.


A descrição do Jardim é de um mundo perfeito, onde o homem, representado pelo primeiro casal, tornar-se mordomo do Criador, seu representante junto aos demais seres criados. Seu poder é tremendo: guardar, nomear, subjugar e sujeitar. E para esta tarefa, é deixado sozinho, e o autor de Gênesis não faz referência a nenhum "manual do fabricante". Parece que nomear, subjugar e sujeitar eram processos que eles aprenderiam fazendo.


Parece ser correto deduzir que Deus se ausentava do Éden, mas que nele passeava ao final do dia 1. O texto não diz que o Criador passava para "tomar satisfação", ou "fazer auditoria", ou "avaliar o trabalho desenvolvido". Diz que ele "passeava"; atividade de quem está tranquilo, relaxado, despreocupado - provavelmente, confiante na capacidade dos seus representantes desempenharem a tarefa solicitada.


Usando o referencial psicanalítico, e supondo ser legítimo aplicá-lo a uma época tão arcaica, a convivência tão íntima entre Criador e criatura marcava uma diferença radical. Ela não era Ele! E isto não era fator negativo, não era uma falha na criação, alvo de 7 avaliações do seu autor como "...e viu Deus que era bom". O reconhecimento da diferença era fator constitutivo do casal e, supostamente, dos seus descendentes.


O fruto da árvore da vida nada mais era que o marco simbólico desta diferença. E como observou Rubem Alves 2, símbolo é aquilo que se inscreve na ausência de alguma coisa.


Naquela época primeva, o símbolo não marcava um fato negativo, marcava uma diferença constitutiva, relatava um fato, e punha uma escolha diária: o não comer reafirmava o caráter divino do casal, a aceitação da desigualdade como marca da perfeição. Digo que reafirmava o caráter divino porque este foi-lhe dado a partir do momento que fora criado "segundo a imagem e semelhança" de Deus que é Trino e Uno. Um Deus que é Uno numa coletividade de Três Pessoas que se revelam de modo diferente, através de funções diferentes. Cada dia em que se mantiam longa da árvore, reafirmavam sua aceitação de um mundo perfeito que integrava a falta na sua perfeição.


A rejeição se deu no momento em que decidiram não mais aceitar a falta como algo intrinsecamente bom, mas como algo a ser rejeitado ("sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal"), algo que os promoveria de categoria dentro da Criação.


A partir daí a falta tornou-se sinônimo de separação, de falha constitutiva e não de diferença constitutiva, com todas as consequências de milhares de anos de história puramente humana.



1 Gn 3.8

2 Alves R O que é religião, Editora Brasiliense

Homofobia e o Pecado de Todos Nós

Eduardo Ribeiro Mundim

Recentemente li um artigo sobre a homofobia na Folha de São Paulo. Chamou-me a atenção a linha de raciocínio adotada por quem o escreveu: na década de 40, a liberação do voto foi vista como prenúncio de uma catástrofe, e a lei do divórcio, idem. A conclusão foi de que todo o barulho realizado por fiéis evangélicos contra a chamada "lei da homofobia" teria destino igual: um sereno esquecimento.

Para uns, a lei evita que os homossexuais sejam discriminados sob qualquer forma; para outros, é um atentado à liberdade de expressão. Talvez ambos estejam certos...

Alguns articulistas evangélicos adotam termos que fazem pensar em uma guerra aberta contra um segmento homossexual específico. "Gaynazismo" é um deles; existem outros que não me parecem adequados para uma página escrita por um cristão.

Por outro lado, alguns segmentos homossexuais parecem querer realmente impor um paradigma a todos, cometendo o mesmo erro que eles denunciam. Padrão que parece ser construído sobre a noção que não há barreiras para a atividade sexual, desde que ela seja previamente acertada entre os envolvidos. Publicamente negam que tal acordo possa envolver menores de idade.

Penso que a lei tenha como alvo sermões que usem termos pejorativos contra a comunidade homossexual, ou que, contrariando as Escrituras, coloquem a atividade homossexual como o maior de todos os pecados; ou, novamente contrariando as Escrituras, a coloquem como exemplo máximo da perversão do ser humano não redimido; ou, pior ainda, deturpando-as, coloquem o alvo da evangelização o cessar da atividade homossexual, e não a confissão do Senhorio de Jesus com toda a adequação ética conseqüente.

Como cristão, de confissão evangélica, pergunto-me às vezes se não aspiramos um governo evangélico de cunho totalitário, onde todos seriam submetidos, querendo ou não, a um governo civil imposto, alicerçado sobre uma hermenêutica determinada. Uma imitação barata dos novos céus e terra que não construiremos, mas que ganharemos como presente, pronto e acabado, vindo das mãos de Deus.

Pergunto-me onde estamos, enquanto evangélicos,
o na luta contra as mortes no trânsito? (quem apoiou publicamente a "lei seca" - excetuando a parte inconstitucional de querer obrigar alguém a produzir provas contra si mesmo);
o na moralidade da vida pública? (talvez Marina Silva seja um dos poucos políticos evangélicos que não nos envergonhem);
o na luta contra o infanticídio indígena? (onde está a mobilização dos políticos que muitas vezes são chamados a ocupar os púlpitos em época eleitoral?)
o na luta pela redução da desigualdade social via desenvolvimento real e não através de medidas paliativas isoladas?

Questiono-me se quando denunciamos o pecado da homossexualidade também denunciamos o da mentira (por exemplo, jeitinhos na declaração do imposto de renda), do roubo (um jeitinho de reduzir ardilosamente a carga horária mantendo o salário), da deslealdade, da violência (durante quanto tempo apoiamos a ditadura militar com todos os seus excessos, justificados pela busca do "bem maior"?)...

Indago-me se estou pronto a aceitar o diferente em minha comunidade de fé, com todos os seus defeitos, até que o Espírito Santo complete a Sua obra nessa "vida diferente"? indago-me se esqueço do conselho paulino "aquele que está em pé, cuide para que não caia"; indago-me se me recuso a escutar Dietrich Bonhoeffer, que nos avisa "quando consideramos o pecado do outro maior que o nosso, estamos longe de conhecer no nosso pecado"? indago-me se meu coração não está endurecido, a ponto de considerar o próximo "o diferente", quando, na verdade, eu é que careço da misericórdia de Deus? indago-me se não nos esquecemos que estamos todos irmanados pelo pecado que cometemos e pela possibilidade de cometer qualquer um? indago-me se o único jeito de trabalhar pelo Reino é aquele que estamos acostumados a trabalhar...

publicado originalmente, 30/07/08, http://crerpensar.blogspot.com.br/2008/07/homofobia-e-o-pecado-de-todos-ns.html

terça-feira, 29 de março de 2016

Cultura, Jardim do Éden e Apocalipse

Eduardo Ribeiro Mundim

Segundo Rubem Alves1 a cultura é uma consequência da imaginação do homem, o único animal que não é o seu corpo, mas o possui; cultura, ou mundo imaginário, que somente surge porque há uma ausência básica, que se manifesta através do desejo. Este, como nunca é satisfeito, torna-se representado pelos símbolos. O mundo real tem de fazer sentido, por isso o homem atribui valores a diferentes aspectos deste real, buscando na dureza da realidade, torná-la mais humana.

Apesar de teólogo por formação inicial, Rubem Alves não parte, naquele livro, do ponto de vista bíblico. Mas não posso deixar de pensar no relato de Gênesis tendo a hipótese dele em mente.

E o que vejo é um desafio para o primeiro casal: construir um mundo imaginário que, de certa forma, se tornasse um pouco deles mesmos, e não algo que lhes fosse completamente externo. Para alguns crentes, é sempre bom lembrar algumas lições que o Éden traz: Deus não é suficiente para o homem! Ele necessita de algo que a Trindade não lhe pode dar, porque assim Ela o definiu ao criar o homem do material da terra. "Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe CORRESPONDA" (2.18) Por livre e soberana decisão, Deus dá ao homem a constituição de só ser completo na presença de um igual.

E o homem, enquanto comunidade, tem a ORDEM de dar nome aos animais, de coordená-los, e Deus se ausenta do jardim. Para que o homem possa construir um mundo que o retrate / espelhe de algum modo, o Senhor Deus voluntariamente o deixa só, apenas eles, homem e mulher, para tomarem as decisões que julgarem acertadas.

O texto sagrado diz que, ao final da tarde, Deus PASSEAVA pelo jardim; Ele não estava fiscalizando o andamento das obras, verificando se tudo estava conforme a Sua vontade. Passeia quem está se deleitando, relaxando, "curtindo a vida". Na tarefa de criar mundos, Deus se sente tranqüilo e aguarda que Seus filhos lhe tragam, por prazer, os frutos da independência que Ele lhes deu!

Talvez a ausência da constante permanência divina seja a ausência citada por Rubem Alves. Talvez o fruto da árvore da vida represente, seja o símbolo, da ausência voluntária, por decisão unilateral, de Jeová. A outra grande lição é que a ausência não é, necessariamente, um mal, porque ela foi plantada no mundo por Aquele que o planejou e executou. A ausência é divina na sua origem, e é a partir dela que a humanidade deveria ter torneado a natureza.

A cultura humana é um mandato divino - ou melhor, faz parte da constituição do homem por decisão soberana do Criador. Ser homem / mulher é ter a necessidade vital de construir mundos que transcendem o indivíduo, abrangendo a comunidade. Cultura humana é realização divina.

E se o pecado desvirtua o propósito original (e aqui pode ser entendido como a decisão humana de dizer que não aceita o vazio que Deus dá; o homem prefere criar, ele mesmo, a ausência que vai guiá-lo doravante), não o anula. No primeiro grande empreendimento humano, a Torre de Babel, o erro está no desejo da uniformidade: um único projeto, megaprojeto, com um único objetivo. E Deus força o homem a diversidade, impondo-lhe línguas diferentes, para que seu desejo de diversidade e criatividade prevalecesse.

Não é isto que o número de espécies de seres vivos, maior que o número das estrelas do céu, ou dos grãos de areia da praia, demonstra?

Criatividade, diversidade cultural, são intenções divinas. Neste momento me questiono se a constante fragmentação do mundo evangélico não seria uma tosca realização deste mandato divino...

E no Apocalipse, o apóstolo João conta que a realização humana é plenamente incorporada nos novos céus e terra. O que ele vê descendo do céu: um novo Éden? Não, uma cidade. Cidade é idealização humana, construção humana. A vida eterna não é um regresso ao paraíso perdido, mas a redenção de tudo aquilo que construímos, enquanto humanidade, na nossa trajetória.2


1 Alves R O que é religião, 2a ed, Editora Brasiliense, SP, 1981
2 Ellul Jacques Apocalipse, Estrutura em movimento, Editora Paulinas, SP, 1979

segunda-feira, 28 de março de 2016

Por que te calas?

Eduardo Ribeiro Mundim

Há um ano a chamada Lei Muwaji (projeto de lei 1057/2007 - http://crerpensar.blogspot.com/2008/07/lei-muwaji.html) foi proposta pelo Deputado Henrique Afonso, do PT acriano. Até agora aguarda o parecer da relatora, Deputada Janete Pieta, do mesmo partido, de São Paulo. No dia 05 de setembro de 2007 foi realizada uma audiência pública para discutir o assunto. E pronto.

Recentemente, um panelaço foi efetuado em frente a residência da relatora, para lembrá-la no projeto que dorme em sua gaveta.

A causa não diz respeito a Igreja, seja ela de matiz católico ou evangélico; não diz respeito ao espiritismo; não diz respeito a nenhuma religião específica. Diz respeito a qualquer um enquanto ser humano. Contudo, este blog parte da premissa cristã evangélica e falo enquanto um cristão evangélico. Portanto, pergunto: por que te calas?
- Pergunto ao Deputado Lincoln Portela, PR - MG, pastor (salvo engano) evangélico e radialista, proveniente de Belo Horizonte, membro da mesma Comissão da Deputada Janete;
- Pergunto ao Deputado Pastor Manoel Ferreira, PTB - RJ, pastor e advogado, membro da mesma Comissão;
- Pergunto ao Deputado Gilmar Machado, PT- MG, em quem votei na última eleição;
- Pergunto a cada deputado da assim chamada "bancada evangélica";
- Pergunto ao CIMI, chamado a se pronunciar pelo ex-presidente da FUNAI, antropólogo Mércio Gomes (http://merciogomes.blogspot.com/2008/07/funai-reage-ao-filme-sobre-infanticdio.html) sobre o filme Hakani (www.hakani.org.br);
- Pergunto ao CIMI se sua opinião oficial é a expressa na sua página na internete, http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=2756&eid=259 - quando digitada a pergunta infanticídio, é a única resposta que aparece.

Enviei correio-eletrônico a todos os deputados federais, um a um; recebi alguns poucos retornos de mensagem não entregue; alguns poucos retorno robotizados; alguns poucos retornos de assessores; apenas um deputado afirma ter feito pronunciamento em plenário (http://www.barbosanetoparana.com.br/discursos/default.asp?nrseq=121).

Não digo que o projeto de lei seja perfeito. Digo que é covardia não discutir o assunto, e deixá-lo mofando no fundo de uma gaveta; digo que é incongruente votar contra o aborto e se calar quanto ao infanticídio; digo que é pecaminoso se omitir frente a questões de vida e morte.

publicado originalmente em http://crerpensar.blogspot.com.br/2008/07/por-que-te-calas.html, 11/07/08

Manipulação do genoma humano: ética e direito

Maria Carolina Vaz GoulartI;
Flávia Godoy IanoII;
Paulo Maurício SilvaIII;
Silvia Helena de Carvalho Sales-PeresIV;
Arsênio Sales-PeresIV

A biologia molecular tem fornecido as ferramentas básicas para os geneticistas se aprofundarem nos mecanismos moleculares que influem na variação das doenças. Deve-se destacar a responsabilidade científica e moral dos pesquisadores, uma vez que os cientistas devem imaginar as consequências morais da aplicação comercial de testes genéticos, já que esse fato envolve não só o indivíduo e suas famílias, mas toda a população. Além de ser preciso, também, fazer uma reflexão sobre como essas informações do genoma humano serão utilizadas, para o bem ou mal. O objetivo desta revisão foi trazer à luz do conhecimento dados sobre características éticas da aplicação da biologia molecular, relacionando-a com os direitos do ser humano. Após análise bibliográfica, pôde-se observar que o Projeto Genoma Humano gerou várias possibilidades, como identificação de genes associados a doenças com propriedades sinergísticas, mas modificando às vezes comportamentos ao intervir geneticamente no ser humano, trazendo benefícios ou malefícios sociais. O grande desafio é decidir o que a humanidade pretende em relação a este gigantesco salto.

IFaculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo. Al. Octávio Pinheiro Brisola 9-75, Cidade Universitária. 17012-901 Bauru SP. mariacarolina@usp.br
IIDepartamento de Ciências Biológicas, Área de Bioquímica, Universidade de São Paulo
IIIMestrado em Reabilitação Oral, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo
IVDepartamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva, Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo

publicado no Bioética e Fé Cristã em 28/03/16

quinta-feira, 24 de março de 2016

Bioética e Fé Cristã: A ética na história do aconselhamento genético : um desafio à educação médica

O aconselhamento genético é uma prática que surgiu nos Estados Unidos na década de 1940 e tem se difundido ao redor do mundo com a crescente popularização da informação genética e a profissionalização da genética na saúde pública. É por meio de sessões de aconselhamento que as pessoas são informadas sobre os resultados de testes genéticos e recebem orientações sobre probabilidades, riscos e possibilidades de doenças genéticas. Trata-se de uma prática profissional que combina saúde, assistência e educação. Este ensaio descreve o surgimento e o desenvolvimento da prática de aconselhamento genético e apresenta alguns de seus desafios éticos. 
Licença : Nome do detentor dos direitos: Associação Brasileira de Educação Médica. "A reprodução em papel ou meio eletrônico com fins educativos será autorizada desde que citada a fonte e desde que não represente uma republicação. Neste caso será necessária autorização prévia expressa da Abem." Fonte: http://www.scielo.br/revistas/rbem/paboutj.htm
postado no Bioética e Fé Cristã em 21.03.16

Massacre no gueto de Gaza 3

Eduardo Ribeiro Mundim
Com certeza é cômodo posar de pacifista, arauto da diplomacia e profeta da ética sentado confortavelmente em casa, a salvo da guerra. O que não anula o pacifismo como expressão política, a diplomacia como meio e a ética como sustentáculo de ambos.

Não há dúvida de que as guerras são cruéis, que a força pede força e que quem vivem pela espada morrerá por ela.

Não há dúvida de que o atual conflito Hamas / Israel é uma peça em vários jogos de tabuleiro, onde participam diversos interessados. Irã, EUA, Comunidade Europeia, Israel, Fatah, Hamas, Liga Árabe,... A lista não tem fim.

Não há dúvidas de que ao Hamas (ao menos a sua facção terrorista) interessa muito mais a destruição de Israel que a proteção e desenvolvimento do seu próprio povo. Para estes, so interessa a guerra.

Não há dúvidas de que a guerra possibilita o desenvolvimento do setor econômico a ela ligado, desde o armamento propriamente dito até a tecnologia do dia a dia e a própria saúde.

Não há dúvidas de que na guerra atitudes inumanas, imorais, bárbaras são perpetradas por qualquer dos atores.

Não há dúvidas de que estar em guerra é uma ótima justificativa para permitir que os aspectos mais baixos da natureza humana (a sombra, no jargão junguiano) se inflacionem e se transformem no ego - enquanto expressão visível de uma pessoa.

Não há dúvidas de que o mais forte é quem tem condições de dosar sua própria força.

Não há dúvidas de que mais palestinos inocentes morreram que terroristas... O que mostra exatamente qual o valor da vida humana.

No meio de tanta humanidade, temos um padrão bíblico a buscar e a contextualizar. O padrão divino nunca foi fácil de suportar: "doce como mel, e amargo como fel". Mas não vejo outra alternativa que se conforme mais (admito que há outras alternativas, que se conformam menos) a ele que a busca, por todos os meios que causem o menor dano possível frente às opções disponíveis, de uma solução que não cause morte a ninguém. E é esta busca que sinto falta no ambiente cristão em que vivo, onde a tônica é, basicamente, justificar Israel.
 
publicado em 14/09/09, http://crerpensar.blogspot.com.br/2009/01/massacre-no-gueto-de-gaza-3.html