domingo, 8 de outubro de 2017

Fwd: [Bioética e Fé Cristã] Raça e bioética - chamado ao debate


Eduardo Ribeiro Mundim


O termo raça possui, no dicionário, diversos significados: linhagem (grupo de pessoas ou animais com determinadas características físicas hereditárias comuns); o conjunto dos indivíduos que compartilham a mesma origem étnica, linguística ou cultural; classe (grupo de pessoas de comportamento semelhante, com a mesma profissão, etc); ascendência, origem, estirpe, casta.

A classificação taxonômica dos seres humanos é a mesma para todos: Homo sapiens sapiens. Ao longo do tempo eles foram classificados, por quem detinha algum poder (de magistrados e reis, a um humilde chefe de família rural assediado pela fome e peste), conforme características que interessavam por alguma razão não operacional (única justificativa para a taxonomia), frequentemente não única. Razão "operacional" é aquela que auxilia no raciocínio para a solução de problemas. Por exemplo, se determinada "doença" genética é restrita a um grupo de pessoas, o gestor público possui uma ferramenta útil no seu processo decisório de distribuição de recursos humanos e financeiros. Porém à medida que os detalhes vão sendo acrescidos e o conhecimento gerado, percebe-se que não é possível classificar os 7 bilhões de seres humanos em grupos estanques, que não compartilhem mais aspectos comuns que diferenças. Ou seja, se é possível (ainda que discutível) falar em raças de animais não humanos, não é possível falar, biologicamente, de "raças humanas" - não há um divisor de águas suficiente para isto.
Historicamente é possível argumentar que o conceito de raça serviu, e serve, unicamente para legitimar que o outro não é um igual, mas um desigual e inferior enquanto ser humano. Assim, legitima-se a escravidão, a exploração, o genocídio, a opressão. A Alemanha nazista é o exemplo mais lembrado, mas os momentos mais escandalosos foram outros, como a colonização na África, Ásia, Oceania e Américas, palcos para demonstração de selvageria (do ponto de vista moderno) evidenciados pelo sequestro (travestido de compra de prisioneiros de guerra) de africanos levados para as Américas e a manutenção deles e seus descendentes como escravos (pessoas sem direito nenhum, à mercê do outro inclusive nas suas necessidades mais básicas - que podiam ser negadas sem justificativa, obrigadas a trabalhar à exaustão se necessário, tratadas como coisas passíveis de serem etiquetadas, vendidas e descartadas). A chegada de europeus aqueles continentes levava aos povos autóctones uma promessa de "salvação", de cultura, de "resgate do modo de vida selvagem", imposta a eles até onde os estrangeiros conseguiam.

O conceito de raças humanas é ideológico, uma construção artificial para benefício do mais forte (não necessariamente do mais apto a sobreviver, ideias diferentes). Mas as consequências desse mito são concretas.

No Brasil, há uma associação estatística entre cor da pele e recursos econômicos; entre quantidade de melanina e acesso à educação (que determina maior potencialidade para ascensão social); negros e pobres são maioria nas penitenciárias; negros e pobres sofrem em maior número de doenças ligadas à ausência de saneamento básico e educação mínima. Ao contrário dos imigrantes europeus e asiáticos, que vieram voluntariamente ao Brasil, frequentemente em grupos que serviram de abrigo e proteção para o seu desenvolvimento, os sequestrados africanos, "livres" da escravidão, ficaram sós, sem uma cultura sua e sem grupos de apoio com força suficiente para serem chamados como tais.

Este é um desafio ético brasileiro hoje: como lidar com as populações que foram exploradas de um modo absolutamente perverso no passado (africanos e indígenas) e que hoje seus descendentes ainda sofrem as consequências deste fato?

Qual a resposta cristã?


Postado no Bioética e Fé Cristã em 10/08/2017 11:27:00 AM

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