Rev Felipe Costa
Pastor adjunto
2ª Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte
Enquanto essas palavras são escritas o número de mortos pelo rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho somam mais de cem pessoas, além dos duzentos e cinquenta ainda desaparecidos. Embora esses sejam os maiores prejudicados pela tragédia, é incalculável o número de pessoas que serão afetadas direta e indiretamente. Quantos filhos terão uma vida dificultada pela ausência do pai e/ou mãe mortos na lama? Quantas esposas precisarão se desdobrar para criar filhos sozinhas? Quantos anos levará para os rios tornarem-se novamente saudáveis? Muitas são as perguntas que poderiam ser feitas nesse momento.
Segundo o Jornal Estado de Minas, as mineradoras estão entre os maiores doadores para campanhas de políticos nos últimos anos. Qual político proporia e/ou votaria leis mais duras para a atividade mineradora? Segundo matéria do site G1, a mineradora Samarco não pagou nenhum centavo da multa ambiental aplicada quando Bento Rodrigues viveu drama semelhante ao de Brumadinho. Será que o mesmo se repetirá desta feita?
Segundo o geólogo Eduardo Marques, professor da Universidade Federal de Viçosa, a barragem de “alteamento a montante” é a mais comum por ser a “mais barata”. Em nome do lucro vidas foram ceifadas e ecossistemas lesados por muitos anos.
Há nas Escrituras algum ensinamento que nos oriente a enfrentar situações como estas? Sim. Segundo a narrativa do Evangelho de Lucas, Jesus iniciou seu ministério anunciando uma Boa Notícia: “O ano do jubileu de Deus chegou! Cegos verão! Cativos serão libertos! Oprimidos encontrarão a liberdade!”. Ao ouvir aquelas palavras as pessoas se alegraram. Contudo, a alegria durou pouco: ao perceberem quem falava, o “filho de José”, ficaram incrédulos e tentaram jogar Jesus de um precipício.
Jesus foge e continua anunciando as Boas Novas, curando os que tinham doenças físicas e emocionais, os endemoninhados, e também alimentado os famintos. O desconhecido Rabi da Galileia chamou a atenção de fariseus de Jerusalém que vão até o Mestre que realizava curas miraculosas e falava como os profetas antigos. Eles vão e levam consigo a notícia: “Foge! Herodes quer te matar!”. Jesus responde que Ele iria continuar lutando pela emancipação da humanidade face ao mal e que iria até a sede do poder, Jerusalém. Mas Jesus também lamenta sobre o estado que Jerusalém chegara: tornou-se uma cidade conivente com Roma, a besta apocalíptica. “Jerusalém só me verá no dia em que entoarem Hosana!”
Ao verem Jesus vinda à Jerusalém os pobres da cidade gritaram: “Bendito o que vem em nome do Senhor!”. Mas ao aproximar-se da cidade, Jesus pranteia e lamenta pela ignorância da cidade que não percebe seu engano. O centro do culto a Javé tornara-se um covil de bandidos.
A vida e obra de Jesus dividiu-se em três momentos: (1) Anúncio das Boas Novas, curas e multiplicação de pães; (2) Percepção de que não bastava alimentar e curar, pois o sistema religioso e político criava doentes e pobres; (3) Enfretamento do problema em sua raiz: Herodes precisa cair e o templo precisa ir ao chão. Somente enfrentando os sistemas de opressão, outras tragédias não se repetirão. Não basta multar; precisamos reinventar o modo como nós nos desenvolvemos econômica, social e humanamente. Para Jesus, a vida tem primazia ao lucro.