Por Matthew Avery Sutton
Quando Billy Graham estiver de pé diante do tribunal de Deus, ele poderá finalmente perceber o quanto falhou com seu país, e talvez com seu Deus. Em relação aos direitos civis e à crise ambiental, as questões mais importantes do seu tempo, ele defendeu as políticas erradas.
Graham estava do lado errado da história.
O evangelista mais famoso do mundo deixou sua expectativa apocalíptica de um reino de Deus futuro cegá-lo para as realidades da vida neste mundo.
Para Graham, a Bíblia tinha uma mensagem clara para os cristãos que viviam no que ele acreditava serem os últimos dias da humanidade na Terra. Apenas indivíduos podem alcançar a salvação; os governos não. Conversões mudam comportamentos; políticas públicas não.
Essas convicções moldaram os pontos de vista do evangelista sobre os direitos civis.
No final da década de 1950, Graham dessegregou suas reuniões de avivamento e parecia apoiar o crescente movimento pelos direitos civis. Este é o Graham que a maioria dos americanos se lembra.
Mas à medida que o movimento crescia, se expandia e se tornava cada vez mais conflituoso, a posição do evangelista mudou.
Uma vez que líderes como Martin Luther King, Jr. começaram a praticar a desobediência civil e a pedir que o governo federal garantisse os direitos dos afro-americanos, o apoio de Graham evaporou.
Poucos dias após a publicação da famosa Carta da Prisão de Birmingham em 1963, Graham disse a jornalistas que o ministro batista deveria "puxar os freios um pouquinho".
Ele criticou os ativistas dos direitos civis por se concentrarem em mudar as leis ao invés dos corações.
Em 1971, Graham publicou Jesus e a Geração Jovem [Casa Publicadora Batista, 1973], um livro sobre o apocalipse vindouro. Procurar pelos sinais da segunda vinda de Jesus se tornou uma obsessão de Graham, como foi para milhões de outros evangélicos em meados do século vinte.
No livro, Graham elogiou a sabedoria dos jovens que rejeitavam o governo como ferramenta para corrigir as injustiças.
Graham teve a oportunidade de liderar os fundamentalistas num novo momento, mas desperdiçou-a.
"Esses jovens não apostam suas fichas nos velhos slogans do New Deal, do Fair Deal, da New Frontier e da Great Society", disse ele. "Eles acreditam que a utopia só chegará quando Jesus retornar. Assim, esses jovens estão em um terreno bíblico sólido ".
Durante seis décadas, Graham ensinou aos americanos que o governo não poderia ser um instrumento de Deus para promover justiça, nem em questões raciais e nem em outras questões importantes. Embora ele acreditasse na igualdade racial, sua teologia o cegou ao que agora sabemos é o melhor meio para alcançar essa igualdade.
Mais recentemente, o evangelista negou a ameaça do aquecimento global e rejeitou os esforços governamentais para mitigá-lo.
Em um livro de 1992 focado nos sinais de que o mundo estava chegando ao fim, o pregador sugeriu que, se a humanidade quisesse sobreviver, as empresas precisavam reduzir a poluição e deixar de contribuir para o aquecimento global.
Em 2010, numa versão revisada do livro, Graham eliminou completamente a expressão "aquecimento global" do texto. O aquecimento global já não existia na mente de Graham como uma ameaça real.
Ele continuou a assegurar aos leitores de que a Terra não seria "salva através de legislação". Não era da conta do governo, indicou, promover leis para proteger a terra para as gerações futuras.
As posições de Graham sobre os direitos civis e o meio ambiente não são as de um extremista de direita, ou de um anti-intelectual paranóico. Graham leva sua bíblia e sua teologia a sério. As posições políticas que ele abraçou derivam de um estudo cuidadoso e sério das escrituras.
Graham cresceu durante o tempo de Franklin Roosevelt, em que houve vasta expansão do poder governamental. Mas ao invés de se juntar aos defensores do evangelho social, como o assessor de Roosevelt, Harry Hopkins, promovendo a criação de um estado de bem-estar social para atender os necessitados, o futuro evangelista foi mais influenciado pelos agitadores fundamentalistas obcecados no apocalipse que rejeitaram o liberalismo do New Deal.
Graham, como a maioria dos fundamentalistas de sua geração, determinou que o estado do New Deal representava uma competição ateia em relação às igrejas e não um aliado em potencial.
Esta é a mensagem que apareceu repetidas vezes nos vários livros de Graham sobre a segunda vinda de Jesus. Somente o retorno de Jesus corrigiria os problemas sociais, concluiu.
A expansão do poder estatal, em contraste, era um precursor necessário para o surgimento do anticristo. O evangelista tinha certeza de que, ao se aproximar o fim dos tempos, os governos do mundo iriam tirar os direitos e liberdades dos cristãos.
O New Deal, com seus regulamentos intrusivos, era o primeiro passo; o Obamacare, com suas prescrições anticoncepcionais, o mais recente.
No entanto, Graham insistia que a inevitabilidade da segunda vinda não era justificativa para a indiferença. "Não devemos achar que devemos nos sentar e não fazer nada para lutar contra o mal apenas porque algum dia os quatro cavaleiros virão com força total e definitiva sobre a Terra", escreveu Graham. Em vez disso, ele estimulou os evangélicos a elegerem pessoas que compartilhavam sua visão de mundo antiestatista.
E foi o que eles fizeram. Os evangélicos brancos desempenharam um papel extraordinário em campanhas políticas recentes, apoiando cada candidato presidencial republicano, de Ronald Reagan a Donald Trump.
Graham teve a oportunidade de levar os fundamentalistas a um novo momento. Ele poderia ter pressionado a levarem a sério a reforma social como um mandato de Deus para salvar o mundo da destruição ambiental. Ele poderia ter abordado o racismo, o pecado original dos Estados Unidos, defendendo políticas de direitos civis agressivas por parte do governo.
Mas desperdiçou essa oportunidade. Ele não conseguiu superar os esquemas especulativos do fim dos tempos de seu séquito de evangélicos, com suas hostilidades anti-governamentais.
Graham tinha boas intenções, como seu trabalho de dessegregar suas cruzadas demonstrou. Mas quando sua influência realmente teria contado, quando ele poderia ter efetuado mudanças reais, uma transformação social real, ele estava muito encerrado no medo exagerado dos últimos dias para reconhecer o potencial do estado de fazer o bem. Estamos todos pagando o preço.
Um novo tipo de fim dos tempos pode estar se aproximando de nós. As tensões raciais estão aumentando, a terra está aquecendo, e os evangélicos estão fazendo pouco para ajudar. Esse pode ser o legado mais significativo e mais triste de Graham.
Matthew Avery Sutton é pesquisador da Fundação Guggenheim e autor de American Apocalypse: A History of Modern Evangelicalism. Ele é professor de História na Universidade Estadual de Washington.